AS DUAS ALIANÇAS
A lição desta semana nos provoca a enxergarmos a Lei de Deus como uma estrada que nos conduza a fé. A escolha intencional do título nos provoca a uma percepção da lei que ao mesmo tempo em que nos remete ao propósito da Lei – O pleno conhecimento do pecado e condição humana – também nos direciona a solução desta condição – os méritos de Cristo providos através da cruz de forma graciosa e que podem ser recebidos pelo pecador por meio da fé.
Tínhamos 3 objetivos para esta semana:
Talvez possamos sintetizar a lição desta semana em 3 perguntas principais:
Embora essa possa ser uma pergunta capciosa sob a perspectiva bíblica de Antiga e Nova Alianças, que, não raras vezes, aparece em citações do Velho e Novo Testamentos, gostaria de focar no objetivo das diversas vezes em que o termo aparece na Bíblia, não por uma visão puramente exegética ou linguística, mas num sobrevoo menos linear e mais subjetivo.
Começo por resgatar os nomes: Adão, Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés, Povo de Israel, Josué, Sansão, Gideão, Davi, Salomão, João Batista, Jesus, João, Estevão, Paulo, Nós.
O que existe em comum em todos estes nomes?
Gostaria de sugerir que em todos estes casos existem pelo menos 4 coisas em comum.
Minha sugestão é a de que, se todos, exceto Jesus, tinham as mesmas necessidades gerais, ou em resumo, a mesma necessidade – VIDA, por que temos a tendência de olhar o desenho como se Deus houvesse mudado alguma coisa?
Nosso primeiro e comum equívoco reside sobre nossa perspectiva e compreensão do que é novo e do que é antigo.
Nossa tendência é olhar para a frase de Deus – farei nova aliança, darei novo mandamento, etc., como se Deus tivesse mudado. Deus não muda. Nós mudamos.
Quando nós mudamos, o contrato se quebra. O que Deus faz? Nos procura e faz um novo contrato.
Perceba que, o novo contrato resulta de nossa quebra do antigo, e não da desistência ou culpa de Deus.
A pergunta que normalmente ninguém faz é, Deus modifica as bases do contrato, ou apenas modifica as datas?
Muitos de nós somos tentados a pensar e interpretar Deus a partir de nossas próprias atitudes caso alguém tivesse quebrado o acordo conosco. Por essa razão, olhamos pra Deus e achamos que ele agiria do mesmo jeito que nós, e rapidamente modificaria as cláusulas do novo contrato, criando cláusulas de barreira ou garantias.
Vamos olhar alguns contratos de Deus:
Adão – Plantou um Jardim, entregou o domínio sobre a Terra, concedeu vida eterna na simbologia da árvore da vida, mas alertou para não comer do fruto pois o resultado disto seria morte. As bases – Adão precisava acreditar que Deus havia contado a verdade e se acreditasse, precisava viver a verdade que havia crido. Essa é a ordem do contrato – Crer e Viver. Existe algo sutil aqui. Não havia nada na árvore da vida em si que fosse capaz de fornecer vida eterna. Adão e Eva poderiam comer quantos frutos desejassem e isso não lhes daria a vida eterna. A questão aqui é a promessa. Deus disse que se eles comessem do fruto Ele daria vida eterna. Igualmente Deus afirmou que se comessem do outro fruto, morreriam. Todo o desenho estava fundamentado no que Deus disse, e não no que Eles fariam. Era preciso acreditar. Fé era a questão central e promessa era a garantia. Como Adão e Eva eram naturalmente bons e perfeitos, acreditar era algo natural, e descrer exigia esforço. Talvez por isso, nós, que somos o oposto deles, tenhamos dificuldades em perceber que tanto para eles como para nós, a questão sempre foi acreditar.
O fato é que Adão quebrou o contrato, em lugar de crer, duvidou. Como resultado, em lugar de viver, escolheu morrer. Essa é a Lei Eterna de Deus. Quem crê nEle, obedece. Quem descrê, desobedece. O problema é que não necessariamente que obedece a Deus, crê. Satanás obedece a Deus, mas não crê. Por isso, sua obediência não pode ser imputada como justiça. Essa sutil inversão de ordem dos fatos muda tudo.
Sem fé é impossível agradar a Deus, mesmo sendo o mais perfeito dos obedientes.
A partir do pecado de Adão, toda a humanidade está condenada à mesma sequência geral que apresentamos nos 4 itens em comum.
Em todos os personagens pós pecado se deu sempre o mesmo. Todas as alianças estão baseadas na mesma sequência. Deus salva, Deus convida com uma promessa, Deus dá uma tarefa, Eu escolho acreditar e obedecer ou duvidar e divergir.
Com o perdão da brincadeira, se você tem dúvida, teste essa sequência com todos os casos.
A grande questão a ser feita é se cada vez que alguém quebrou a aliança, Deus fez outra diferente ou fez a mesma novamente, e novamente e novamente…
Quando Adão pecou, a única coisa nova que surgiu na aliança foi a necessidade de alguém pagar a dívida que possibilitaria o perdão para renovação do contrato. O pecado gerou uma consequência prevista no contrato inicial – a Morte. Como mortos não assinam contratos e não podem compactuar alianças, primeiro precisa haver garantia de pagamento da dívida para depois contratar.
Por isso sou tentado a não enxergar duas alianças, mas a mesma. A única diferença que vejo entre a primeira e a segunda, é a garantia do pagamento de uma dívida.
Do mesmo modo, a única diferença entre a aliança do velho testamento e do novo, repousa sobre a promessa.
A promessa do novo é a garantia da vinda do messias. A promessa do novo é a vinda do Redentor.
A certeza do velho é a de que Adão ficou vivo por que um cordeiro lhe deu as vestes. A certeza do novo é a de que estamos vivos por que o Cordeiro morreu.
Sempre foi, e sempre será a mesma aliança.
O que ocorreu em todos os casos em que a promessa se desfez foi o fato de que um dos lados quebrou o contrato, e não foi Deus.
Quando Israel recebeu a aliança no Sinai, as estruturas eram exatamente as mesmas – Salvação (Morte dos Primogênitos e Liberdade do Egito), Sair da Zona de Conforto (Sair do Egito e atravessar o Mar), Ser a Nação que mostraria as Bênçãos de Deus ao Mundo (Missão), Viver a Missão (Obedecer). Para que tudo isso fosse possível, eram necessários os mesmos elementos: 1o. Crer – Umbrais da porta, pés na água, etc., e 2o. Obedecer.
Para que pudesse ser estabelecida a Aliança era necessária uma garantia – a Morte do Cordeiro. Portanto, a base da aliança do Sinai é e sempre foi a mesma – Fé no Sangue do Cordeiro. O resultado esperado também é sempre o mesmo – vá e não peque mais. Sejam meu povo e eu serei o seu Deus.
Minha última preocupação aqui repousa sobre uma tendência humana. Temos uma dificuldade extrema em assumir nossos erros, nossa culpa, nossa responsabilidade.
Sou tentado a acreditar que toda essa tensão gerada entre Lei e Graça, Fé e Obras, e tantos outros binômios que nossa criatividade seja capaz de inventar, são única e exclusivamente maneiras de escondermos nosso real problema – o pecado de que somos responsáveis.
Na realidade imputamos a Deus nossas projeções, transformamos Seus pensamentos e reações nos nossos, e por fim, transformamos a Teologia em “humanologia”.
Por que somos tiranos, fazemos de Deus igualmente tirano. Por que reagimos aos erros dos outros com prevenções e punições, transferimos tais atitudes à Deus.
Porém quando fazemos isso, nos deparamos com a contradição de que este Deus morreu por todos, sem pedir nada em troca.
Nesse momento somos constrangidos, nos envergonhamos, nos sentimos mal por que percebemos que somos diametralmente opostos a um Deus amoroso.
Como resultado, ou nos rendemos a este amor, reconhecendo nossa completa incapacidade e dependência, ou então, buscamos uma forma de escapar à vergonha e resolver sozinhos a questão.
Cada vez que mudamos nossa forma de agir, responder ou reagir à Deus, Ele pacientemente encontra uma nova maneira de nos abordar, mas sempre com o mesmo objetivo, salvação e reconhecimento de nossas necessidades.
O que percebo são dois tipos de atitudes:
Este é exatamente o problema com o texto de Gálatas 4. Quando Paulo compara a Aliança do Sinai com a Aliança de Cristo, o ponto em debate não é a natureza da aliança, mas a resposta dada pelas pessoas à essa aliança. Israel respondeu com rituais autossuficientes, substituindo a fé por obras vazias. Trocou a aliança de fé na promessa de Deus por um jeitinho humano baseado na autossuficiência da carne. Ao comparar Hagar com Sara, Paulo resgata a atitude de Abraão, e não a postura de Deus. Deus corrige a autossuficiência humana evidenciando a dependência.
Deus ressalta a promessa em Isaque frente ao caminho inadequado em Ismael. Com o Sinai é exatamente o mesmo caso. A autossuficiência (Tudo que o Senhor disse Faremos) é desmascarada na Cruz (Dependência do pecador da graça salvadora de Cristo). A questão em debate não é a pureza e legitimidade da Lei de Deus, mas a completa incompetência humana em observá-la enquanto pecador autossuficiente.
Nosso problema é que não queremos reconhecer nossa dependência, e quem nos mostra essa condição é a Lei, pois ela atesta nosso pecado. Por conseguinte, o que fazemos é destruir a Lei, com uma boa desculpa, a Graça. Sem a Lei, não nos vemos pecadores, a culpa se esvai, e nos sentimos bem. O que não nos damos conta é de que ao fazermos isso, anulamos o sacrifício de Cristo, pois, sem Lei, esta morto o pecado, e logo Cristo, morreu em vão.
A grande pergunta é, até quando continuaremos culpando o Médico (Deus), o Diagnóstico (a Lei), o Remédio (a Graça) e o Tratamento (Vida de dependência e obediência à Palavra de Deus), e escondendo nossa doença apenas para nos sentirmos bem conosco mesmos, mentindo que não somos doentes?
Pense nisto.
MLSJ/2017